quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Nós, os focas.


Ser "foca" deve ser engraçado...

“O foca sempre entra numa fria”, “aprende rápido a realizar pequenas tarefas em troca de poucas sardinhas”, “fica boiando o tempo todo”, “ele tem um ar puro, inocente”. Essas palavras foram ditas por Tião Gomes Pinto, diretor de redação da Revista Imprensa. Apesar de engraçadas, elas refletem exatamente como deve ser a vida de um jornalista novato, que é, "carinhosamente", chamado de "foca".

Qual o porquê desse "nome"? Bem, isso Valdir Sanches explicou no blog dos estudantes de jornalismo da PUC: "(...)Outro bicho, este marcante no jargão do jornalismo é a foca. Na verdade, "o" foca. Jornalista novo, inexperiente. Um foca. Consta que o apelido vem dos remotos tempos do flash a magnésio. Os fotógrafos dos jornais preparavam suas máquinas: focavam e deixavam o obturador (uma pequena "janela") aberto. Quando todos estavam prontos, alguém riscava um fósforo numa placa de magnésio e ela "explodia" [!!] num clarão. Essa luz passava pelo obturador aberto e impressionava a chapa, o avô do filme [N.E.: bota avô nisso...]. Ocorre que alguns fotógrafos, inexperientes, demoravam para preparar a máquina - e atrasavam os outros. "Péra aí, estou focando." E os outros: "Foca logo, caramba." E mais tarde... "Ih, lá vem o foca". No final do texto, Sanches lembra que essa é a história que ele vende porque foi essa que ele comprou...

Independente de qual seja a origem do termo, eu, sendo um foca "em formação" (isso existe?), posso dizer, ou melhor, imaginar como deve ser a vida de um jornalista novato dentro de uma redação de um jornal qualquer.

A primeira coisa que o "foca" deve sentir ao entrar na redação é um deslumbramento sem tamanho. Ver aquele monte de gente indo pra lá e pra cá, a busca desenfreada pela informação, a gritaria (sei que isso já não é tão comum hoje em dia, mas nunca se sabe...), gente importante dando as caras de vez em quando e o reconhecimento... ah, esse é o desejo secreto de todo jornalista: ser reconhecido na rua, ganhar prêmios, entrar para o "Hall da Fama" do jornalismo. Legal, não?! Mas, vá por mim caro futuro colega... as coisas são um pouquinho diferentes... mas só um pouquinho.

Voltando àquelas frases do início do post, chega-se a uma conclusão muito simples: vida de "foca" é uma aventura. Sem exageiro nenhum. Além de ser o mais corajoso do bando, o "foca" deve ter um certo desapego de sua vida pessoal. Não entendeu? Simples. Por ser um novato na coisa, um foca quase nunca consegue um emprego fixo num lugar. Sem a carteira assinada, o que resta? Freelas! Fazer freelance é o que há para quem está começando. Um freelancer é aquele que não perde uma única oportunidade de escrever. Mesmo que as redações vivam cheias de gente, sempre surgem matérias que o pessoal "da casa" não pode assumir. São essas que vão parar nas mãos dos "caçadores de matérias da arca perdida". E, como uma "freelada" só não faz verão (ou seja, não dá tanto $$ assim), os "foquinhas" geralmente escrevem vários textos para vários veículos, o que demanda um tempo imenso, arrancando de você uma das únicas coisas que uma pessoa ainda pode se orgulhar: a vida pessoal. Por isso o desapego, entendeu??

Outra coisa que os "focas" aprendem na marra é como funciona uma redação e como sobreviver (não enlouquecer é o termo certo) dentro do jogo de interesses que acontece nesses locais. Assim como as focas reais têm de correr das baleias para não virar almoço, os "focas" têm de se virar para não serem engolidos por outros "focas" (canibalismo...). Como esse negócio é muito concorrido, se você dormir no ponto vem alguém e "NHAC", te engole e pega seu lugar. Mas isso é normal, pois a tal da concorrência está aí, mas, se o "foca" não estiver ligado... ou melhor, se ele ficar boiando por muito tempo e não aprender a nadar contra e a favor da corrente, ele dança... e pode até ser uma "dança no gelo"... sacou? Gelo... foca... enfim.

Outra coisa, que vem na cola dessa no parágrafo anterior, é uma lição simples: o "foca" tem que se ligar na malandragem da profissão. A vida de um jornalista é cheia de macetes (antes que alguém pergunte, eu ainda não conheço nenhum... esse é o tipo de coisa que só se aprende com o tempo), e esses macetes podem te levar longe na profissão. Alguns deles exigem uma leve dose de maldade, por isso não adianta ser o "super bonzinho" o tempo todo. Não confundam (por favor) maldade com mau-caratismo ou falta de ética. Essas são coisas totalmente diferentes. O que eu quero dizer é que um bom jornalista sempre tem um pouco de ginga pra conseguir suas pautas (que podem ser muito "cabeludas") e sempre tem uma carta na manga. Foi isso que levou José Roberto de Alencar (jornalista e autor do livro "Sorte e Arte") tão longe na profissão, conseguindo, diga-se de passagem, vários "furos" e "primeiras páginas". Vá por mim, vale a pena ouvir uma pessoa que conseguiu um furo numa revista de química. Como diria o patrão: "Isso é incrível!"

Ah, e uma última coisa antes de concluir. Graças a Gilmar Mendes, os focas que resolveram dar as caras no mundo do jornalismo nesse ano já começaram entrando numa fria: a obrigatoriedade do diploma foi pro espaço!

Focas do Brasil, uni-vos! Mesmo que o "mar não esteja pra peixe", podemos sim fazer a diferença nessa profissão tão nobre. O jornalismo é uma arte. E como tudo na vida tem seus altos e baixos. Por isso, mesmo com todas as dificuldades que vão aparecer pela frente (aliás, elas andam aparecendo com uma frequência muito grande ultimamente), temos que continuar. E, se quisermos deixar nossa marca, temos de "botar nossa mola" (como se diz aqui em Alagoas) e mostrar que somos bons, pois, nesse mundo em que o maior tenta engolir o menor, só os fortes sobrevivem (três frases clichês no mesmo parágrafo? Legal...). Mas, cá entre nós, espero não ser foca por muito tempo... deve ser uma coisa muito tensa! =D

PS.: No livro "Sorte e Arte", José Roberto de Alencar fala sobre como conseguiu alguns dos "furos" de reportagem em sua carreira. Muito interessante esse livro... acredite em mim: você não faz ideia das coisas que ele fez em busca da primeira página... aliás, em busca do topo da primeira página, a área nobre de um jornal!


Fonte: blogs "A gente é foca, baby" e "Focas do meu Brasil".





5 comentários:

Ludmila disse...

QUE FOCA FEIA! KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

Derek Gustavo disse...

Nah, coitada... ela é até simpática...

Anônimo disse...

Coisas de foca.

Elayne Pontual disse...

Muito legal o post. O último parágrafo quase me fez chorar de emoção... e de rir tbm. =s Beijo meu companheiro foca. =p

:*

Derek Gustavo disse...

=D
Bj, companheira foca!!!