quinta-feira, 24 de setembro de 2009

"Vc" escreve "axxihm" ou "assim"?


José Saramago, há algumas semanas, andou dizendo que as pessoas estão cada vez mais "preguiçosas" para escrever. Essa afirmação ele fez depois de ser questionado por um jornalista se faria um perfil no Twitter, site que ficou conhecido por, além de outras coisas, permitir que seus usuários se comuniquem por (apenas) 140 caracteres, forçando-os a serem estremamente objetivos no que dizem. Será que ele não está exagerando? Eu sei que discordar de Saramago não é uma coisa muito inteligente a se fazer, ainda mais sendo um jornalista "em formação", mas alguém tinha que tentar, não?! E, que me perdoem os fãs do escritor, mas eu serei esse a tentar!!

A internet, desde seu surgimento há 20 anos, vem transformando a maneira como nos comunicamos. Prova disso são os vários "dialetos" que andam surgindo atualmente, como o "miguxês" e o já tão famoso "internetês". Esses "dialetos" também ficaram famosos por outro motivo. Eles simplesmente criaram uma nova vertente do português, em que as regras gramaticais não existem e qualquer um pode escrever do jeito que bem entender. Mas existem algumas peculiaridades entre esses dois exemplos citados. O "miguxês" preza pelo excesso de letras nas palavras (miguxxxxho, só pra citar uma), enquanto o "internetês" segue pelo caminho inverso: o corte de algumas letras (caso do "vc", que, até pouco tempo atrás era 'você").

Mas, isso não é exclusivamente culpa da internet. O próprio "você", por exemplo, há muito tempo era bem maior: "vossa mercê". Com o passar do tempo, a palavra foi sendo encurtada, até chegar na forma que usamos hoje em dia ("você"). Se você levar em conta que a "harpanet" (a vovó da atual internet) só surgiu muitos anos depois, pode constatar que essa prática de encurtar as palavras e as mensagens é bem mais antiga. Em outras palavras, esse fator é mais cultural do que situacional (nesse caso, essa prática não começou depois da internet).

E o que leva as pessoas a fazerem isso com nossa língua? Não sei ao certo, mas creio que essas coisas acontecem para facilitar a comunicação, seja ela pessoal ou não. No caso da internet, por exemplo, esses "cortes" acontecem principalmente no "Messenger", um programa que pede uma certa velocidade nas conversas, para que elas pareçam pessoais. Imagine só quanto tempo você ficaria digitando se fosse escrever todas as palavras como elas realmente são! Por isso, em nome da dinamicidade, ocorrem essas "atrocidades". Claro, não podemos esquecer que a preguiça de alguns também conta, mas num mar de dinamismo, esses acabam virando pequenas "marolinhas".

Aí chegamos ao ponto que Saramago, provavelmente, estava criticando. As pessoas, ultimamente, andam trazendo ao mundo real uma coisa que deveria ficar restrita à internet. Não é mais tão difícil encontrar redações de vestibular, ou de colégio, com palavras escritas como se escreve num bate papo pelo MSN. Isso não se restringe apenas ao texto feito à mão. O efeito também se espalhou na própria internet. O "efeito Twitter" está prejudicando seriamente os usuários que gostam de escrever textos mais longos em blogs, por exemplo. Como todos estão se acostumando a ler os "140 caracteres", a paciência para ler algo com mais caracteres que isso não existe mais. Por essa razão, creio eu, os "blogueiros" e "escritores com mais paciência para escrever" estão se readequando à essa nova realidade. Basta dar uma olhada em volta e contar quantos blogs ainda tem textos do mesmo tamanho desse que você lê agora. O que se vê por aí é um punhado de textos curtos, concisos e objetivos. Em outras palavras, de leitura rápida.

Certo. Esse era o objetivo da internet desde o início, mas ninguém previa que a coisa fosse chegar a esse ponto. Nosso país já tem a fama de ter um número ridículo de leitores. E agora, depois da febre "Twitter", a coisa só piora.

Mas é justamente aí que eu discordo de Saramago. Nós não "estamos caminhando para o monossílabo" (parafraseando o "A Cidade e Eu"). Quer dizer, nós até estamos, mas numa velocidade baixa. Ainda existem leitores que gostam de um bom texto. Não que um texto pequeno não possa ser bom, mas o negócio é que a grande maioria deles tem mais de 140 caracteres. Também existem leitores que gostam de ficar horas e mais horas lendo um único texto. Assim como ainda existem aqueles que gostam de falar corretamente a nossa língua, do jeito que ela está escrita na gramática. Impressiona o fato de que as pessoas se espantarem e até ridicularizem aqueles que são "prolíxos", mas, para a felicidade geral, esse grupo é pequeno.

Creio eu que, por conta desses bravos usuários da língua, que fazem questão de jogar dentro das regras, o monossílabo vai continuar sendo uma distante realidade. Os sites que todos criticam por "obrigar" o usuário a desenvolver pouco sua escrita e leitura são originários da terra do "uncle Sam", onde todo mundo fala inglês (vamos todos fazer um sonoro "Ohhhhh). E não é segredo para ninguém que o inglês é uma língua extremamente "curta e rápida', não deixando muito espaço para desenvolver as ideias. Esse espaço, pelo contrário, existe no português. Na tentativa de adaptar nosso hábito de escrita ao deles, nossa língua acabou sendo lapidada. Mas nada que venha a provocar pânico geral. Não sei se daqui a alguns anos eu terei de mudar de ideia, mas, por hora, é assim que eu penso. Só espero não estar mordendo a língua.

3 comentários:

Marcos disse...

Boa crítica, Derek.
Acho válido pensar desse jeito.
Tb discordo de Saramago nesse
aspecto, como vc.
Porém a internet ñ permite essa
anarquia total de regras q vc disse
ñ! Pelo menos penso eu.
As coisas precisam de uma regra
p q elas possam se entender e ocupar seus devidos espaços.
Afinal de contas, msm na internet,
a língua é fascista!

Derek Gustavo disse...

Sim, claro.
Sem as regras a coisa viraria uma anarquia.
Mas, convenhamos, alguns grupos de interneutas fingem que elas não existem, fazendo da líbgua o que bem entendem.
A net não permite anarquia, mas esses a fazem do mesmo jeito, sacô?
=D

José Ricardo disse...

Olá Derek!
Devo dizer-lhe que fiquei agradavelmente surpreendido ao clicar em bloge seguinte na página do meu blogue pessoal.
Você foca-se em manter o texto interessante para o leitor e em manter a sua atenção, e na verdade, você é bom a fazer isso.
Convido-o a visitar os meus blogues www.naturalmentefotografia.blogspot.com e www.beahba.blogspot.com

Cumprimentos de Portugal